jueves, marzo 5

Fire alert – Part one

Sexta-feira. Dez da noite. Neve na janela. Sofá, manta, calefação e chamego, quarteto ideal para uma plena execução dos trabalhos do aparelho digestivo. Súbito, o alarme de incêndio dispara. O volume é ensurdecedor. A tentação é fazer de conta que nada está a acontecer. Como a percepção dos fenômenos-dependem-dos-órgãos-sensoriais, a vã tentação é de tapar os ouvidos, como se ao não escutar, o incêndio (ou pelo menos o alarme), deixariam de existir.

Impossível. O volume é absurdamente alto. Doem os tímpanos. Descubrimos que há duas “caixas de som”, de alarme. Uma no quarto e outra na sala. Para um apartamento de 45m2, parece-me um exagero. Tento desligá-las de alguma maneira. O som ressoa. María espia pelo olho mágico e vê que as pessoas estão saindo dos seus apartamentos.

Ainda ressabiados decidimos dar uma espiadela no corredor. A vizinha sul-coreana nos grita. Devemos sair.  Calço o primeiro tênis que vejo. Maria me alerta para desligar a televisão. Apagamos as luzes. Pegamos os casacos. E os passaportes? Volto ao apartamento. Penso em pegar apenas o essencial: todos os livros que comprei e os desenhos da María. Desisto. Paciência.

Começamos a descida, do 15º andar, via escada de emergência. O alarme continua tocando. É, deve ser de fato uma emergência. Bom, também é fato que se fosse, a esta altura já teríamos voltado-ao-não-ser.

O cenário na frente do prédio é interessante. Pessoas meio-ensaboadas, só de roupão. Traje ideal para quem está na rua, na neve. Crianças de colo chorando a plenos pulmões. Casais com cara de assustados. Pijamas de vários estilos. Dois caminhões de bombeiros. E nós.   

Pouco tempo depois de chegarmos à frente do prédio, os bombeiros liberaram o edifício. Falso alarme. O condomínio em que moramos tem 18 andares. Considerando que cada andar tem 20 apartamentos com uma ocupação média de 2 moradores, convivemos cerca de 720 vizinhos.

Entramos na fila de um dos 4 elevadores. Ainda bem que, como diz o ditado, "os últimos serão os primeiros". Oba! O elevador chega e, eis que dele sai, afobadíssima, uma senhora idosa. Ela nos pergunta se já acabou o incêndio. Digo que sim. Respiro aliviado e penso comigo que pelo menos não fomos os últimos a evacuar a área.

Temperatura: padrão Sibéria (nível III).
Possibilidade de chuva: antes chovesse, do céu só cai gelo.

Vento:  sempre frio e cortante



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